O amanhecer desta terça-feira (16) fez com que a classe política paulista passasse todo o período da manhã “na ponta dos pés”. Isto porque foi deflagrada a Operação Munditia, conduzida pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de São Paulo, que cumpriu mandados de busca e apreensão em diversas cidades do estado, com inclusive vereadores presos.
A operação faz parte de uma investigação do Ministério Público acerca de fraudes em processos licitatórios, em que empresas ligadas ao PCC supostamente subornavam políticos e servidores municipais para, num jogo de cartas marcadas, firmarem contratos milionários com Câmaras e Prefeituras e, assim, financiarem a facção criminosa.
De acordo com a decisão judicial, expedida no início deste mês, na qual a juíza Priscila Devechi Ferraz Maia autoriza as ações de busca e apreensão concretizadas, o trabalho teve início a partir de uma denúncia anônima em relação a um pregão realizado pela prefeitura de Guarulhos que levantava suspeitas. Uma vez iniciada a investigação sobre as empresas envolvidas, pôs-se luz sobre o esquema em diversos locais.
Dentre os parlamentares presos, estão dois ex-presidentes das Câmaras de suas respectivas cidades; são eles Flávio Batista de Souza (PODE), o Inha, de Ferraz de Vasconcelos, e Luiz Carlos Alves Dias (MDB), o Luizão Arquiteto, de Santa Isabel. Um vereador de Cubatão, Ricardo de Oliveira (PSD), o Ricardo Queixão, também foi preso.
Além dos políticos, outras 12 ordens de prisão temporária foram cumpridas.
“Tanto a operação de hoje, quanto a da semana passada, deixam bem claro que, hoje em dia, pensar nessa facção criminosa atrelada unicamente ao tráfico de drogas, ao crime de roubo, esses crimes ditos violentos, não mais corresponde à verdade. O que essas operações deixam muito claro é que há uma sofisticação na atividade dessa organização criminosa”, explicou o promotor de justiça Frederico Silvério, membro do GAECO, em entrevista coletiva concedida na sede do MP, no centro de São Paulo.
Na ocasião, a promotora Flávia Torres explicou que, segundo o que constatou a investigação até o momento, a ação dos criminosos se dividia em três eixos: corrupção de agentes públicos, fraudes em licitações e lavagem de dinheiro. Sem maiores detalhes sobre a investigação, o promotor Yuri Fisberg, chefe da operação, revelou que apenas um dos contratos investigados movimentou cerca de R$ 200 milhões.
Das 13 cidades onde foram constatados contratos suspeitos, a grande maioria deles relacionados à limpeza, seis são no Alto Tietê: as já citadas Ferraz e Santa Isabel, e Mogi das Cruzes, Guararema, Poá e Arujá. Completam a lista Santos, Guarujá, Cubatão, Itatiba, Sorocaba e Buri, além de Guarulhos.
Foram realizadas diligências em seis prefeituras – dentre elas a guarulhense –, cinco câmaras, 10 conjuntos comerciais e 21 residências.
Vem mais por aí
Na fala de Frederico Silvério, onde menciona a “operação da semana passada”, ele se refere à “Fim da Linha”, deflagrada no último dia 9, que teve como alvos diretores de duas empresas de ônibus da capital também por suspeitas de ligação com o PCC.
De acordo com uma reportagem da CNN Brasil, não se trata de uma coincidência. Segundo apurou o veículo, os esforços do GAECO, em conjunto com a Polícia Militar, estão voltados para investigar as relações espúrias da facção com o poder público estado afora.
O que diz a prefeitura de Guarulhos
Procurada, a administração municipal guarulhense se posicionou, em nota, da seguinte forma:
“A Prefeitura de Guarulhos acompanha a ação do MP-SP contra um grupo criminoso que estaria utilizando empresas ligadas a uma facção criminosa em licitações públicas e se coloca à disposição das autoridades para o esclarecimento dos fatos. O MP não aponta a administração municipal como investigada; a investigação se dá sobre empresas que prestam serviços à Prefeitura de Guarulhos, entre outras cidades. Não há servidores presos, tampouco afastados, em Guarulhos.“